domingo, 1 de janeiro de 2017

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Gotas transparentes encharcam a primeira página
A continuação de uma série de desastres
Onde dores são escritas em vocábulos eufemizados
E há um pavor de que a angústia se alastre

Folha molhada, palavras borradas
A decepção abraça as expectativas
A nova história, aparentemente cheia de novidades
Não passa de uma cópia da precedente destruída

E numa tentativa quase inútil de continuar a ler a trama
Respira fundo, conta até dez, conta até vinte
Evitando presumir que aquelas mesmas gotas pungentes
Também estragaram as páginas seguintes

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Jogo


Caio
Levanto-me
Corro
Para alcançar o topo
A fim de encontrar um lugar
Onde as ondas não consigam me atingir

Afogo-me
Volto à superfície
Nado
À procura de terra firme
Em busca de um esteio
Onde eu encontre um alicerce

Você me derruba
Droga! Você não se cansa?
Meus pés sim
Eles e todo o resto
Mas você nunca se esfalta desse jogo
Assim como eu sempre tento novamente

E eu caio de novo
Ergo-me destemido
As águas tornam a me submergir
Fujo para o fastígio
Caio. Levanto-me. Submerjo.
Fujo. Fujo. Fujo.

Já sem direção
Em cursos desconhecidos
Por pérfidos terrenos
Ante águas misteriosas
Eu me aventuro
Desnorteio-me

Algum dia
Um de nós se cansará desse jogo
No entanto, sinceramente, eu duvido muito que seja você

domingo, 7 de agosto de 2016

Cinzas


A vida é um instante
Um instante que passa rápido demais
Um instante que desaparece subitamente

Todo mundo irá morrer um dia
Mas nem todo mundo vive
Eu olho para esse mundo em que piso
E me pergunto o que estou fazendo aqui

Enquanto muitos se cobrem de orgulho e vaidade
Outros apenas buscam por respostas
Alguns nem sabem o que estão procurando

Qualquer minuto pode ser o último
Talvez esses sejam meus últimos versos
E quem quer que tenha me dito que a vida é mirabolante
Sem dúvidas estava mentindo para mim

Quando eu partir
Jogue minhas cinzas em qualquer lata de lixo
Não me importa para onde elas vão
Estou mais preocupado com o lugar onde estou agora

terça-feira, 7 de junho de 2016

Anseio. Descrente anseio.


Insuficientemente consciente
Pateticamente vulnerável
O espírito dançando ao desastre
Numa desconexão insuportável

Tropeçando em mim mesmo
Na humilhação da apatia
Na desolação do derrotismo
Na supressão da alegria

Esta noite eu só quero paz
Acordar com uma nova canção para entoar
Perdurar um júbilo interminável
Viver sem coisa alguma a lamentar

Velhas sombras se escondem no interior
Luzes brilhantes reluzem no passado
Embuçar o padecimento é como se enganar
E acreditar covardemente que se encontra abrigado

Em algum lugar da estrada eu me perdi
Aprisionei-me com meus fantasmas
E a única coisa que quero me ouvir dizer é: "Parabéns!
Você conseguiu voltar para casa."